Foi mais ou menos nesta altura do ano que me revelei ao mundo enquanto um projecto de autor de banda-desenhada.
Era a Primavera de 1994 e as aulas estavam cada vez mais chatas.
A minha professora de Ciências queria lá saber o que eu estava a escrever. O cheiro do esperma ressequido e de toda aquela massa húmida de pêlos púbicos devia ser mais interessante. Ela colocava as mãos por debaixo da saia ou das calças, coçava-se por um momento e depois chegava as mãos ao nariz. E fazia-o com alguma frequência.
Eu pensei que tínhamos atingido um nível bastante elevado de confiança professor-aluno. Havia um notório à-vontade e um desejo mútuo de escape daquela aula. A partir daí, senti-me legitimado para dar largas às minhas próprias fantasias.
Menos sexuais e mais pseudo-artísticas.
O meu colega do lado gostou da primeira história.
Eu gostei que ele tivesse gostado. Foi o primeiro passo.
Comecei a fazê-las nas outras aulas, em casa, quando tinha tempo – e era muito, eu nem sequer saía à noite.
Entre 1994 e 1996 devo ter feito mais de 40, 50, 60 “histórias” – qualquer estimativa é imperfeita: só sei que fiz muitas, como em mais nenhuma altura da minha “carreira”. A maior parte eram tiras simples, uma folha A5 rasgada, escrita só de um lado, menos de 10 “quadradinhos”. Dava-lhes títulos simples e quando me faltavam os nomes intitulava as "histórias" com nomes de canções dos Nirvana, Smashing Pumpkins ou Soundgarden.
Foi uma época muito prolífera. Algumas coisas nem eram originais – ouvia uma anedota e passava-a para a forma de desenho. Como nem toda a gente conhecia essas anedotas, o sucesso foi crescendo.
Neste período, a audiência era apenas a minha turma. Depois passou a ser a minha turma e mais uns quantos. Tive de mudar de assuntos – é que a maioria das “histórias” mais alargadas incluíam caricaturas do pessoal da minha turma e muitas “private jokes”. Alguns já não percebiam.
A mudança de escola não matou as minhas bandas-desenhadas. Perguntavam-me “Então e tu, ainda fazes aquilo?”. OK, eu vou fazer, eu gostava de fazer, entretinha-me e integrava-me socialmente com aquele papel rabiscado. Mudei de paradigma: escrevi “histórias” que pudessem ser lidas por todos, tornando os argumentos e personagens mais abstractas, citando eventos e personagens conhecidas por todos.
Zé Bastos nasceu em 1994, mas só no final de 1995 adquiriu uma dimensão superior ao mero membro daquela turma.
Era a Primavera de 1994 e as aulas estavam cada vez mais chatas.
A minha professora de Ciências queria lá saber o que eu estava a escrever. O cheiro do esperma ressequido e de toda aquela massa húmida de pêlos púbicos devia ser mais interessante. Ela colocava as mãos por debaixo da saia ou das calças, coçava-se por um momento e depois chegava as mãos ao nariz. E fazia-o com alguma frequência.
Eu pensei que tínhamos atingido um nível bastante elevado de confiança professor-aluno. Havia um notório à-vontade e um desejo mútuo de escape daquela aula. A partir daí, senti-me legitimado para dar largas às minhas próprias fantasias.
Menos sexuais e mais pseudo-artísticas.
O meu colega do lado gostou da primeira história.
Eu gostei que ele tivesse gostado. Foi o primeiro passo.
Comecei a fazê-las nas outras aulas, em casa, quando tinha tempo – e era muito, eu nem sequer saía à noite.
Entre 1994 e 1996 devo ter feito mais de 40, 50, 60 “histórias” – qualquer estimativa é imperfeita: só sei que fiz muitas, como em mais nenhuma altura da minha “carreira”. A maior parte eram tiras simples, uma folha A5 rasgada, escrita só de um lado, menos de 10 “quadradinhos”. Dava-lhes títulos simples e quando me faltavam os nomes intitulava as "histórias" com nomes de canções dos Nirvana, Smashing Pumpkins ou Soundgarden.
Foi uma época muito prolífera. Algumas coisas nem eram originais – ouvia uma anedota e passava-a para a forma de desenho. Como nem toda a gente conhecia essas anedotas, o sucesso foi crescendo.
Neste período, a audiência era apenas a minha turma. Depois passou a ser a minha turma e mais uns quantos. Tive de mudar de assuntos – é que a maioria das “histórias” mais alargadas incluíam caricaturas do pessoal da minha turma e muitas “private jokes”. Alguns já não percebiam.
A mudança de escola não matou as minhas bandas-desenhadas. Perguntavam-me “Então e tu, ainda fazes aquilo?”. OK, eu vou fazer, eu gostava de fazer, entretinha-me e integrava-me socialmente com aquele papel rabiscado. Mudei de paradigma: escrevi “histórias” que pudessem ser lidas por todos, tornando os argumentos e personagens mais abstractas, citando eventos e personagens conhecidas por todos.
Zé Bastos nasceu em 1994, mas só no final de 1995 adquiriu uma dimensão superior ao mero membro daquela turma.
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