domingo, 26 de abril de 2009

"Adeus" (Maio 1998)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Adeus"

“Adeus” marca, sem surpresas, uma espécie de… despedida. Foi o fim de um ciclo. A partir daqui, 8 meses de interregno – não foi um final definitivo.

Augurou-se que sim, que podia ter sido o fim, mas acabou apenas por sucumbir a personagem Zé Bastos. Dei-lhe duas hipóteses de aniquilação, em ambas morreria enganado. Foi assim. Matei a personagem, mas o espírito sobreviveria.
Agora, o ambiente em que cresceriam as minhas “histórias” iria sofrer algumas modificações. O primeiro público desapareceu quase por completo. As “histórias” tinham de perder totalmente as referências demasiado localizadas. Isso até já estava controlado. O maior desafio talvez fosse encontrar uma forma de manter os argumentos “frescos”, tanto no sentido da novidade como da audácia.

“Adeus” porta-se como um episódio típico de fim de etapa. A roupa (leia-se, o papel) tem manchas amareladas reveladoras de algum desmazelo. Não há propriamente uma sequência, somente alguns pontos dispersos. Estima-se um número de histórias já realizadas até à data, revela-se que algum cepticismo pode também ter estado na base para o adeus de “Adeus”, aparece o Pato Donald (uma singela homenagem), aborda-se a pedofilia belga alguns anos antes de ela migrar para cá e perfila-se a constituição de dois onzes imaginários nas áreas laterais do papel.

No final da 1ª parte, uma menção ao período da juventude de Zé Bastos e ao colectivo ao qual ele pertenceu: os Ultras Petrogal.
Os Ultras Petrogal nem era um nome que eu tivesse inventado, apenas me apropriei dele. Designava não apenas uma claque de futebol, com cânticos e celebrações e tudo, mas também um grupo musical fictício. Os membros eram todos da minha turma no primeiro ano de vida de Zé Bastos. Eles eram Zé Bastos (bateria, voz secundária, letras e management), Zé Barbichas (baixo e utensílios pirotécnicos), Zé Ariano (voz, moshes e propaganda política) e Zé Skóvias (guitarra, material ilícito e pornografia avulsa).
Paralelamente às bandas-desenhadas, dediquei vários papéis aos Ultras Petrogal, contendo as letras, a cobertura de alguns concertos na tournée pelos bairros problemáticos da grande metrópole (anos antes dos Kalashnikov internacionalizarem o conceito), com algumas fotografias dos cartazes dos concertos, das capas dos álbuns e de eventos mediáticos. A música era basicamente covers de Nirvana, Pearl Jam, Green Day e Soundgarden. Já as letras eram totalmente novas e focavam maioritariamente os aspectos relacionados com a turma. Pudera. Éramos apenas 5 rapazes na turma e o outro que não entrou para os Ultras Petrogal era, com toda a eventual injustiça que possa ser atribuída ao critério que fundamentou esta decisão, o alvo a abater. No fundo, uma pequena forma de bullying, nada de especial e que hoje em dia até tem um ar muito moderno.
Antes dos Ultras Petrogal tinha existido a Brigada Anti-Pesadelos, constituída pelos mesmos elementos e o Zé Andorinha, o quinto elemento que desertou passadas escassas semanas da sua integração no grupo. A Brigada Anti-Pesadelo era como transportar os “Ghostbusters” para o “Pesadelo Em Elm Street”. Só que não havia Freddy Krueger nem fantasminhas verdes: os inimigos eram as nossas professoras. Mas estejam descansados, nenhuma delas era morta nas “histórias” nem lhes desatávamos a bater. As piadas eram mais do género sexual-brejeiro. Para auxiliar as coisas, algumas raparigas nossas colegas também apareciam com frequência.

Depois dos Ultras Petrogal, ainda existiram os Aissebergue Em Xamas, mas sem muita produção visível. Depois disso, acabou a preponderância atribuída a personagens mais ou menos colectivas nos meus argumentos. Foi uma fase da qual, infelizmente, não sobraram grandes registos para o século XXI.

“Adeus” acaba com Zé Bastos feito em pedaços ou com o isco mordido e com um “Tchau!” tão coloquial quanto indiciador de um derradeiro encore. Que até seria mais que um. Na verdade, toda uma nova era estava para chegar. Nota-se que ainda havia algum espaço para evoluir, pois poucos celebram desta forma o seu fim sem concederem mais oportunidades. Sente-se que “Adeus” é somente um pequeno bluff, cuja máscara acabará por cair mais cedo ou mais tarde.
Menos de um ano depois, aí sim, viria a derradeira e épica despedida. Este tema é tratado noutra nota.

"Querido Filho Azar" (Abril 1998)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Querido Filho Azar"

O porquê deste título cacofónico: se repararem bem, não é atribuído nome à personagem principal; ela é apenas tratada por “querido”, “filho” e… “azarado”. “Azarado” é o que era para ter sido na verdade, mas entusiasmei-me e comecei a escrever demasiado largo…
A linha condutora da “história” é mesmo o azar. Equívocos, infortúnios, coincidências devastadoras. A indiferença sublinha a desgraça tragicómica do “querido filho azarento”.
O presente encontra-se duramente com o passado da personagem, enquanto esta discorria as suas frustrações ao aparentemente estranho Zé Bastos no “Totó Bar”, o bar da moda de então, já visto em algumas “histórias” atrás. Vamo-nos apercebendo do lado burlesco da sua rocambolesca vida à medida que o novelo vai desfiando, tornando esta personagem numa das mais Chaplinianas, ou Keatonianas, de todas estas bandas-desenhadas (salvaguardando toda a óbvia distância de cariz "zébastiano", como é evidente). Isto é, um género de caricatura, uma hiperbolização apalhaçada do quotidiano que se estende ao longo de toda a “história”.
Sempre nos pareceu bem rirmo-nos de outrém. Lá no fundo, nunca nos importamos bem com eventuais consequências, antes esperamos com um afã um tanto ou quanto mórbido que consigamos descobrir ainda mais peripécias envolvendo os outros. Gostamos que a taluda de azar saia sempre ao lado. Nós, incluindo o Zé Bastos.

sábado, 25 de abril de 2009

"Ele Próprio" (Fevereiro 1998)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Ele Próprio"

A faceta mais arrogante e egocêntrica de Zé Bastos vem ao de cima em “Ele Próprio”.
O título aparece depois de uma estranha passagem amorosa com que se inicia a página (devidamente assinalado com um “1”, que era para que todos soubessem qual o lado certo por onde começar). A “história” propriamente dita, bem vistas as coisas, é mais curta que o comum, dado que só começa na terceira tira de quadradinhos. E a história propriamente dita não se alonga muito para além de um suposto combate ao analfabetismo (hoje diz-se “iliteracia”), personificada na dicotomia entre o carrasco culto e o carrasco inculto.
“Ele Próprio” dedica mais tempo à soberba do que ao desenvolvimento de uma “história” cativante. Aliás, tudo é resolvido com recurso a um sermão da autoridade Zé Bastos às massas.

O Picasso nunca pintou naquele estilo, mas foi o pintor que me ocorreu na altura. Ninguém se queixou, de qualquer forma.

domingo, 19 de abril de 2009

"Olá, Juventude Acabada!" (Novembro 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Olá, Juventude Acabada!"

A crítica é predominantemente dirigida às raparigas. Aqui elas são retratadas como seres fúteis. E eles também parecem parvos demais. Será que a juventude está acabada? Ou sempre foi assim e sempre assim será?
Mais uma “história” entre rapazes e raparigas, num cenário de euforia colectiva com muitas mutilações à mistura. É o desejo de estar na moda levado ao extremo.
Existe um momento de pesar pelas salsichas acidentadas. Elas foram dignas até ao fim. As únicas no meio disto tudo?

"Deserto" (Novembro 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Deserto"

Provavelmente, a “história” em melhor estado de conservação desta fase e uma das mais bem preservadas de sempre. As carradas de tinta sobreviveram com distinção ao passar dos anos.
Consegue ser mais correcta que a maioria, em traços genéricos. Há uma nudez, mas "merda" é o máximo que nos aproximamos de um palavrão; ou seja, tudo se mantém em territórios bem controlados. Um deserto muito movimentado e uma saída inusitada da Suécia. Sem intromissões, "Deserto" é uma narrativa fluida.
Uma das “histórias” mais acessíveis, pela sucessão de gags inócuos mas espirituosos. “Deserto” bebeu muito mais da Disney do que dos Monty Python.
Só Zé Bastos é que não bebeu nada. O deserto revelou-se tão inóspito para ele como tinha sido para Miguel Prates. Ou seria apenas mais uma miragem?
No seguimento, introduzo o finado Vítor Correia (ainda vivo à altura).
Na retina fica a fala do homem com aspecto de inglês clássico.
Fixe.

sábado, 18 de abril de 2009

"Shampoo" (Novembro 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Shampoo"

A versão que se reproduz de “Shampoo” é a reescrita: a original cedi-a. Não me foi particularmente difícil reescrevê-la. Mas nunca mais reescrevi nada.
Sendo uma "história" em que desenhos são preponderantes, há que referir que a qualidade dos rabiscos ficou ligeiramente diminuída, pois a versão original certamente beneficiou de uma maior motivação. Acaba por não se notar muito. Apesar de tudo, é uma "história" diferente do habitual simplesmente porque… há pouco texto.
“Shampoo” é assim intitulada porque o seu conceito baseava-se em três outros conceitos: “a história”, “a inspiração” e “o veredicto”. A inspiração cortava o seguimento lógico entre a história e o veredicto. Básico e algo rebuscado, mas pronto. Vai daí, três conceitos num só argumento… 3 em 1… shampoo. Ou champô. “Shampoo” parecia melhor. Ainda pensei em “Semáforo”, também seria bonito, mas fiquei-me pelo “Shampoo”. 3 em 1.
Toda ela desenvolvendo-se de forma muito escorreita, mesmo com uma retrospectiva pelo meio, “Shampoo” gira em torno do aluno Zé Bastos e termina com algumas personagens paradas a olhar para um semáforo com a luz verde. Um momento de filosofia dissimulada. O culminar de uma série de contradições dispersas pela “história”.
Lê-se rapidamente, dá tempo para que vocês possam lavar a cabeça a seguir. Com um shampoo amaciador anti-caspa. 3 em 1.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"O Sonho De Valdemar" (Outubro 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "O Sonho De Valdemar"

Esta “história” obteve críticas positivas quando foi “publicada”, arrancando alguns risos. Também me diverti a fazê-la. Consegui engendrar mais um argumento decalcado dos Monty Python, ou seja, juntei pequenos pedaços que se ligavam de alguma forma entre si para formar um todo relativamente coerente, porque, afinal, nos sonhos tudo é possível (isto não é bem um spoiler, pois o verdadeiro spoiler está logo no título). É sempre uma saída fácil que faz com que tudo o que não faça sentido passe imediatamente a fazer. Dada esta facilidade, podia correr o perigo de tornar recorrentemente esta solução numa saída para todos os becos onde me ia enfiando. Por isso, não creio que tenha voltado a usá-la. Seria demasiado óbvio.
Fala-se em Mário Wilson, convidado em mais um programa de TV, Gorbatchev, Júlio Sebastião (era o presidente da CAP, a confederação dos agricultores, tinha uma barba enormíssima que despertava curiosidade e faleceu pouco tempo depois, creio eu, trucidado numa máquina agrícola – é verdade!) e a stôra de Português, que era uma disciplina que abrangia todos do 5º ao 12º ano, permitindo que toda a gente pudesse pensar na sua própria professora (por acaso, a minha não era particularmente caricaturável). O Gianluca Laruzzi nunca existiu – acho eu.
Nota-se claramente a esferográfica a ressentir-se do esforço com o desenrolar da “história”, sendo que os últimos quadradinhos foram rabiscados já em nítidas dificuldades. Eu só mudava de esferográfica durante o curso de uma “história” se tal fosse absolutamente necessário. E esta estava a correr muito bem para que eu quebrasse o ritmo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

"Verdades" (Outubro 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Verdades"

Não me recordo dos motivos para o título. Deve ter parecido bem na altura. Uma "história" que retrata um pedaço da programação da TV Palhaçada - o 4º poder foi sempre uma grande fonte de inspiração. Os alvos são os carteiros e a polícia. O cínico Zé Bastos aparece a apresentar uma imitação óbvia daqueles célebres proto-reality shows tão em voga na SIC dos anos 90, mas não surge perante a psiquiatra sem soutien. A violência volta em grande forma sob a forma de braços amputados esguichando sangue, depois das tréguas da última "história". Sem nenhum motivo especial. É apenas mais um devaneio, esta é que é a verdade.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

"Manifesto Anti-Violência (Liberdade?)" (Agosto 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Manifesto Anti-Violência (Liberdade?)"

O título pretensioso desta “história” vem no seguimento do que era tido por uma “excessiva violência” latente nas “histórias” passadas, designadamente, na imediatamente anterior (que se intitulava “A Pior História De Terror”). As pessoas achavam que as coisas, não raras vezes, descambavam para o sangue gratuito, com mortes e piadolas sádicas de permeio. Por isso, “Manifesto Anti-Violência” inclina-se para outros campos menos sangrentos.

De forma aberta, “Manisfesto Anti-Violência (Liberdade?)” versa sobre a então Primeira Dama e o seu “cenourinha”, tentando ser declaradamente provocadora, satirizando o habitualmente insatirizável. Não creio ser comum este género de paródia sobre a instituição supostamente mais respeitável do país noutro lado qualquer – pelo menos, não por intermédio de uma “banda-desenhada” colocada gratuitamente na Internet.
É assim a vida. Eu sou totalmente amador e posso permitir-me a fazer as coisas pelo gosto e não pelo que pode ser vendido. O facto de haver gente que ganha a vida com a banda-desenhada pode servir de explicação para não conhecer nenhum blogger português que publique o seu material gratuitamente na Internet, seja ele “correcto” ou “incorrecto”. Compreendo. Para ser franco, e embora acredite que possam existir autores malditos perdidos por aí, à distância de um clique, também não sou um conhecedor profundo do que fez ou se vai fazendo neste campo – eu só lia, e leio, o Pato Donald.

Aqui, com o traço de uma esferográfica que se esvaiu perante a voragem do tempo, há a ignomínia de misturar a Primeira Dama com uns separadores da cariz erótico/ pornográfico e ver o nosso (então) Presidente na casa-de-banho a folhear a “Maria”. Claro que isto não podia passar impune: no fim, Zé Bastos, bêbado, mal-educado e arrogante, assume as culpas e tudo acaba bem, excepto para ele mesmo e para a falida Clímax filmes.

Apesar de título, a violência e a perversão mórbida aparecem em pequenos detalhes espalhados ao longo das duas páginas A5: as siglas da IRA e da ETA, os hábitos destrutivos da Primeira Dama, os conservadores vingativos… e até uma singela nota sobre a Princesa Diana, que acabara de morrer nesse dia 31 de Agosto de 1997. Assim se finalizou com chave de ouro/ prata/ latão (riscar o que não interessa) o mais produtivo mês de que há registo desta “banda-desenhada”. Nunca mais fui capaz de escrever quatro “histórias” num só mês.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

"A Pior História De Terror" (Agosto 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "A Pior História De Terror"

Não será certamente “A Pior História De Terror”. Já vi películas mais desinteressantes. É uma “história” com princípio, meio e fim. Tem o Zé Bastos apenas na introdução, advertindo para o horror que acaba por não ser assim tão terrível quanto isso e limitando a leitura a quem não chegue a um número positivo, após algumas operações matemáticas pouco comuns. Vendo bem as coisas, todos podem ler, porque qualquer número elevado a uma potência par é positivo – excepto o zero, claro, mas o zero será difícil de atingir (e, nesse caso, estará plenamente justificada a limitação, seus azarados molestadores de crianças que não atraem gatos!)
A provocar o terror está o monstro Willy, vilão do filme “Os Mutantes da Marinha Grande” (anos antes do “Ninja das Caldas”), criado pelo insuspeito e respeitado doutor Venâncio, afinal um perverso sanguinário corrupto e de coração frio. Muito mais frio do que o choque pela morte do tamagochi – uma novidade à época – poderia deixar supor.
Poucas vezes inventei monstros fantásticos para os meus enredos estrambólicos, estranhamente ou não, e este Willy até se saiu muito bem. Pena a esferográfica não ser das melhores e o papel ter sofrido muitas agruras durante estes anos.
Não tenham medo, não tenham muito medo, é apenas mais uma farra que acaba com a palavra “entrecosto”.

sábado, 4 de abril de 2009

"Cultura" (Agosto 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Cultura"

Esta é a primeira “história” aqui publicada marcadamente “social”. Há um comentário muito explícito sobre o zeitgeist sócio-cultural do Portugal de 1997 em “Cultura”. É uma fotografia muito particular desse momento, tirada e revelada pelo aqui incompreendido Zé Bastos. A estrutura de “Cultura” é bastante linear na sua globalidade, pelo que a subversão prenunciada pelo nome “Zé Bastos”, que aparece virado ao contrário na caixa do título, é apenas ilusória.

Alguns sinais premonitórios, ou de como adivinhar inadvertidamente o futuro apostando no absurdo: fala-se do fogo em Nova Iorque no quadradinho do meio da 3ª fila da 1ª parte, quatro anos antes do 11 de Setembro… a proporção, apesar de tudo, foi menor do que aqui escrito.
Entre uma ou outra referência geográfica, desfilam os nomes que, efectivamente, constituíam o género do top musical nacional da época, bem como exemplos do que podia ter sido a sua inspiração lírica. E os jovens delinquentes aparecem em força – embora os metaleiros já não façam mal a ninguém (se é que alguma vez fizeram); hoje, o aspecto visual dos bandidos é diferente, o som é diferente, a droga de eleição é diferente, as expressões são diferentes, apenas a patifaria é, aparentemente, igual.
As famílias desinteressavam-se da realidade ao hipnotizarem-se com programas de TV imbecilizantes. A crítica ia mais para a SIC, que a TVI estava ainda meio agarrada ao legado católico. O Big Show Sic tinha aberto as portas ao assassinato da decência. A TV tinha sido violada no seu bom-gosto e nunca mais recuperou. A maioria não se queixou. Agora estão disponíveis 578 canais (579 neste momento) e as famílias dispersam-se à mesma, vendo o "Drangonball" (que não tem o "n" antes do "g") ou não.

Já ouvi versões do Marco Paulo… em Death-Metal. Verídico. Metal-Pimba é um estilo musical que já deve ter passado pela cabeça de muita gente. Apesar de tudo, estamos ainda longe de ver Ágata no concerto dos Megadeth.

"1º Acto" (Agosto 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "1º Acto"

“1º Acto” é bastante representativa desta fase da minha “carreira”: um argumento pouco consistente que nem para uma página A5 chega, sendo por isso entrecortado com outros pequenos argumentos e intromissões de forma a preencher todo o espaço. Como se fosse um programa humorístico composto por sketches. Estava vidrado nos Monty Python, é verdade, e a testar os meus limites do absurdo.

Há muitos palavrões, nenhum deles dito pela personagem Zé Bastos, que só aparece em dois quadradinhos e é mera figurante. Há famílias pervertidas e socialmente reprováveis. Há adolescentes que assumem o protagonismo e que vencem na sua luta contra o autoritarismo paternal, que não sabe dar o exemplo nem comunicar, acabando, previsivelmente, estupefacto com a sua própria impotência para influenciar o que quer que seja. Muitos de nós conhecemos esse distanciamento geracional nesse íngreme período a que se chama “puberdade”. “Puberdade” é, aliás, um nome feio que soa a doença venérea. Ou a uma espécie de infecção. Cheia de pus e larvas. Soa muito mal.

Há também uma sádica referência de gosto muito duvidoso ao acidente rodoviário que vitimou o rancho folclórico de Mouriscas de Vouga (hoje ninguém se lembrará deste episódio, excepto os sobreviventes, os familiares e conhecidos das vítimas; tinha acabado de ocorrer quando escrevi este papel). Mas aquilo que ainda hoje me faz sorrir é quando, na 2ª parte da banda-desenhada, uma fractura exposta é tratada como uma menstruação.

“1º Acto” é simultaneamente o título e o 1º quadradinho da “história”. Mais uma pequena inovação que experimentei. O original já está parcialmente rasgado e isso é bem visível no canto superior direito da 2ª parte.
“1º Acto” chegou, portanto, ferida ao século XXI. Mas ainda é uma sobrevivente e continua a tresandar a incorrecção e rebeldia.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

"Cinco Dias" (Julho 1997)

(1ª parte - clicar para abrir)
(2ª parte - clicar para abrir)

Notas Sobre "Cinco Dias"

Como disse, em 1996 comecei a manter um registo de todas as bandas-desenhadas que fiz. Mas ainda assisti a 9 baixas.
E eu sei quais as “histórias” em falta: “This Is Not A Zé Bastos Cartoon”, “Sete”, “Poesias”, “Penico Mal-Educado”, “Fruto & Vegetal”, “The Space Cows’ Great Show”, “João”, “Alternativo” e “E Se Começassem A Ler A Partir Do Fim?” – belo conceito tinha esta banda-desenhada, que fazia jus ao título, lendo-se da direita para a esquerda a partir donde dizia “fim”.
Espero que alguém esteja a dar pulos nalgum lado, se ainda possuir essas "raridades perdidas". Mas acho que já é tarde demais para esperar alguma coisa.

Chegamos assim à primeira sobrevivente: “Cinco Dias”. Porquê o título? Porque é a duração duma semana de trabalho. Tinha arranjado uma ocupação porcamente remunerada pela primeira vez e cinco dias pareciam uma eternidade.

Ler “Cinco Dias” é entrar de forma dura dentro deste universo. Para além do absurdo-mais-que-perfeito, há quadradinhos propositadamente rodados a 180º (para ler, é melhor guardar para depois rodarem a imagem). O objectivo era mesmo dificultar a leitura, não estava a fazer qualquer protesto nem a tentar estabelecer um novo conceito de continuidade e em continuidade como em “E Se Começassem A Ler A Partir Do Fim?”. Objectivo cumprido. Apesar de tudo, quase não há referências sexuais. Só algumas cabeças esfaceladas. E fico muito contente pela visualização estar minimamente perceptível.

“Cinco Dias” foi, julgo, uma das única duas “histórias” que reescrevi. A original tinha-a dado, após muita insistência. Então, decidido a preservar o meu espólio e com o argumento ainda fresco, fiz uma réplica logo a seguir, que conservei até chegar a esta era dos bits & bytes. Cheguei a pensar que podia fazer o mesmo com todas as outras que tinha dado. Obviamente, esse era um projecto condenado ao insucesso: primeiro, porque a memória não permite que se perca muito tempo nessa tarefa; depois, porque não há nada mais aborrecido que perder tempo a reescrever nós próprios, especialmente quando isso podia demorar horas. A ter que perder tempo, preferia fazê-lo avançando para novos enredos. Ou então a fazer porcaria com os colegas. Prioridades.

Portanto, é justo afirmar que “Cinco Dias” tem muita sorte em estar aqui. Seja feita honra a esta anciã.