domingo, 26 de abril de 2009

Notas Sobre "Adeus"

“Adeus” marca, sem surpresas, uma espécie de… despedida. Foi o fim de um ciclo. A partir daqui, 8 meses de interregno – não foi um final definitivo.

Augurou-se que sim, que podia ter sido o fim, mas acabou apenas por sucumbir a personagem Zé Bastos. Dei-lhe duas hipóteses de aniquilação, em ambas morreria enganado. Foi assim. Matei a personagem, mas o espírito sobreviveria.
Agora, o ambiente em que cresceriam as minhas “histórias” iria sofrer algumas modificações. O primeiro público desapareceu quase por completo. As “histórias” tinham de perder totalmente as referências demasiado localizadas. Isso até já estava controlado. O maior desafio talvez fosse encontrar uma forma de manter os argumentos “frescos”, tanto no sentido da novidade como da audácia.

“Adeus” porta-se como um episódio típico de fim de etapa. A roupa (leia-se, o papel) tem manchas amareladas reveladoras de algum desmazelo. Não há propriamente uma sequência, somente alguns pontos dispersos. Estima-se um número de histórias já realizadas até à data, revela-se que algum cepticismo pode também ter estado na base para o adeus de “Adeus”, aparece o Pato Donald (uma singela homenagem), aborda-se a pedofilia belga alguns anos antes de ela migrar para cá e perfila-se a constituição de dois onzes imaginários nas áreas laterais do papel.

No final da 1ª parte, uma menção ao período da juventude de Zé Bastos e ao colectivo ao qual ele pertenceu: os Ultras Petrogal.
Os Ultras Petrogal nem era um nome que eu tivesse inventado, apenas me apropriei dele. Designava não apenas uma claque de futebol, com cânticos e celebrações e tudo, mas também um grupo musical fictício. Os membros eram todos da minha turma no primeiro ano de vida de Zé Bastos. Eles eram Zé Bastos (bateria, voz secundária, letras e management), Zé Barbichas (baixo e utensílios pirotécnicos), Zé Ariano (voz, moshes e propaganda política) e Zé Skóvias (guitarra, material ilícito e pornografia avulsa).
Paralelamente às bandas-desenhadas, dediquei vários papéis aos Ultras Petrogal, contendo as letras, a cobertura de alguns concertos na tournée pelos bairros problemáticos da grande metrópole (anos antes dos Kalashnikov internacionalizarem o conceito), com algumas fotografias dos cartazes dos concertos, das capas dos álbuns e de eventos mediáticos. A música era basicamente covers de Nirvana, Pearl Jam, Green Day e Soundgarden. Já as letras eram totalmente novas e focavam maioritariamente os aspectos relacionados com a turma. Pudera. Éramos apenas 5 rapazes na turma e o outro que não entrou para os Ultras Petrogal era, com toda a eventual injustiça que possa ser atribuída ao critério que fundamentou esta decisão, o alvo a abater. No fundo, uma pequena forma de bullying, nada de especial e que hoje em dia até tem um ar muito moderno.
Antes dos Ultras Petrogal tinha existido a Brigada Anti-Pesadelos, constituída pelos mesmos elementos e o Zé Andorinha, o quinto elemento que desertou passadas escassas semanas da sua integração no grupo. A Brigada Anti-Pesadelo era como transportar os “Ghostbusters” para o “Pesadelo Em Elm Street”. Só que não havia Freddy Krueger nem fantasminhas verdes: os inimigos eram as nossas professoras. Mas estejam descansados, nenhuma delas era morta nas “histórias” nem lhes desatávamos a bater. As piadas eram mais do género sexual-brejeiro. Para auxiliar as coisas, algumas raparigas nossas colegas também apareciam com frequência.

Depois dos Ultras Petrogal, ainda existiram os Aissebergue Em Xamas, mas sem muita produção visível. Depois disso, acabou a preponderância atribuída a personagens mais ou menos colectivas nos meus argumentos. Foi uma fase da qual, infelizmente, não sobraram grandes registos para o século XXI.

“Adeus” acaba com Zé Bastos feito em pedaços ou com o isco mordido e com um “Tchau!” tão coloquial quanto indiciador de um derradeiro encore. Que até seria mais que um. Na verdade, toda uma nova era estava para chegar. Nota-se que ainda havia algum espaço para evoluir, pois poucos celebram desta forma o seu fim sem concederem mais oportunidades. Sente-se que “Adeus” é somente um pequeno bluff, cuja máscara acabará por cair mais cedo ou mais tarde.
Menos de um ano depois, aí sim, viria a derradeira e épica despedida. Este tema é tratado noutra nota.

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