sexta-feira, 1 de maio de 2009

Notas Sobre "Telemóvel"

Eis o regresso. Não era preciso ninguém pedir por mais, isso podia ser condição suficiente mas não era condição necessária. Eu estava com apetite por mais e não fazia sentido privar-me desta vontade de continuar. O retorno às lides foi, portanto, natural.
As “histórias” adquiriram um formato ligeiramente diferente: desapareceu a caixa do título. Passou a não figurar qualquer título, mas sim uma citação mais ou menos pachola proferida por uma personagem qualquer, imaginária ou não. Libertou-se do tabu dos quadradinhos, pelo menos em “Telemóvel”, a assim designada primeira “história” deste novo fôlego de bandas-desenhadas. “Telemóvel” também é a primeira aqui exposta que foi feita num papel quadriculado. Mas ainda e (quase) sempre de tamanho A5.
O estilo é também um pouco mais… obscuro. Tudo é deixado no ar, em suposições. As personagens portam-se misteriosamente. Há espaço para elas pararem um pouco para pensar. A “história” desenrola-se num ritmo diferente do habitual, não há cortes abruptos, tudo se passa rapidamente. Não há nada realmente pateta a não ser aquela conversa de casa-de-banho. Não é uma “história” que, globalmente, dê para rir; quanto muito, dará para sorrir. Pelo menos, devia dar para voltar a ler e detectar os pequenos pormenores que não se vêem da primeira vez.

Não há que esconder que o assunto aqui abordado destroça o fenómeno da dependência do telemóvel e a inerente desumanização que isso provoca nos contactos sociais, quando a febre dos gadgets começava a despontar. Lembro-me de nem sequer ter telemóvel na altura e todos pensarem que estava completamente fora. Em “Telemóvel” dou largas às minhas críticas num registo a roçar a paranormalidade de David Lynch (quanto pretensiosismo), deixando que cada um interpretasse à sua maneira o que é que “Telemóvel” representa, não só em termos de valor artístico pela denúncia que faz da forma preferencial de socialização contemporânea, que é indirecta e à distância, mas também para si mesmo – ou seja, será que a extrema subserviência perante a tecnologia também vos diz alguma coisa?
Quem são estes dois? E o nebuloso assassino é o mesmo que tenta um arriscado contacto pessoal? E quem é que está atrasado e porquê? Será que um é o Diabo? Mas o Diabo não mata e pede amor logo seguir. Será que o outro é Deus? Um Deus atrasado e que não acaba as frases? Serão os mesmos? Ou será ao contrário? Digam-me vocês o que acham. Pensem nisto antes que a bateria acabe.

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