sexta-feira, 29 de maio de 2009

Notas Sobre "Tiro Ao Boneco"

Nem sempre estes papéis se dedicavam afincadamente a testar os limites da parvoíce e do sarcasmo de qualidade muito duvidosa. Lembro-me vagamente de algumas “histórias” perdidas aí pelos idos de 1995 em que o tema assumia contornos mais escuros que o habitual, e não falo da tonalidade do desenho; se não à superfície, pelo menos de modo mais ou menos implícito.
“Tiro Ao Boneco” é a sobrevivente que exemplifica esse lado lunar de maneira mais paradigmática. Uma primeira parte só de texto e uma segunda parte que se inicia como se uma câmara se fosse afastando em zoom out até nos apercebermos que a personagem queixosa é um boneco na carreira de tiro, um mero alvo que não vai encontrar o conforto mesmo quando alguém o recebe como prémio – ele simplesmente não era o prémio desejado.
Se há “história” que não desespera para fazer rir, “Tiro Ao Boneco” é a tal. Mesmo apesar das conversas sem sentido que se escutam por entre os lamentos iniciais e da referência ao Dias Loureiro, bem depois dele ter saído de cena e cerca de oito anos antes de ele voltar às bocas do mundo. Eu sempre acreditei que este gajo merecia ser gozado de alguma forma. E ele não me desapontou. Coincidências como esta podem revelar-se muito mais enigmáticas do que parecem à primeira vista, o que reforça a essência apenas aparentemente minimalista de “Tiro Ao Boneco”.

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